Uma pausa
Alguns amigos pensaram que fosse brincadeira quando contei que o Celso e eu passaríamos uma temporada em São Luís, no Maranhão. Celso foi alguns meses antes, a pedido da empresa, para resolver algumas pendências no escritório de lá. Não era a primeira vez que convivíamos com grandes distâncias, o seu trabalho sempre exigiu períodos de deslocamentos. E, até então, não tínhamos outra possibilidade, com a filhota na escola e o meu atelier em São Paulo, a não ser lidar com a lonjura.
A princípio ele foi por três meses, que logo foram prorrogados para seis, justamente quando começou a Copa do Mundo, que naquele ano, foi no Brasil. Diante disso, resolvi fechar a Confraria do Patchwork durante o período dos jogos. Eu andava me sentindo cansada com a minha rotina. E como não estava mais presa às férias escolares, decidi tirar umas férias mais longas do que de costume. Pela primeira vez, em muitos anos, percebi que não havia nada que me prendesse, e nem razões para ficarmos juntos só em alguns finais de semanas. Foi assim que nasceu a ideia do meu período sabático, sem prazo definido, e, a princípio, sem grandes mudanças na nossa vida.
Eu já conhecia São Luís, mas como turista. Alguns anos antes viajamos para os Lençóis Maranhenses e passamos alguns dias na capital, onde só visitei o Centro Histórico e a praia de São Marcos. Quando voltei para morar, eu não sabia o que me esperava e o que aquela viagem significaria para mim.
Ali cheguei com algumas roupas, um livro e o meu tênis de corrida. Foi o que levei para começar uma nova vida — mesmo sem saber disso ainda.
Moramos em um flat por alguns meses. E, por mais que seja libertador não ter uma casa para cuidar, depois das primeiras semanas me senti desconfortável.
A cozinha era uma miniatura, parecia uma casa de bonecas. Duas bocas de fogão elétrico onde só cabiam panelas pequenas. O frigobar não tinha espaço para nada, nem para as minhas frutas. Almoçávamos e jantávamos no restaurante por quilo do outro lado da avenida. A falta de privacidade foi outro problema. Isso porque a equipe de limpeza dali não estava habituada a apartamentos ocupados durante o dia, e entravam sem avisar. O prazo do trabalho do Celso foi prorrogado novamente e eu adiei a volta às minhas aulas. Decidimos procurar outro lugar para morar.
Não foi difícil encontrar um apartamento pequeno, de quarto e sala, semi mobiliado. E ainda tivemos a sorte de conseguir um com uma vista para o mar de tirar o fôlego. Foi com essa vista da varanda e o vento salgado que batia em meu rosto que percebi que gostaria de morar por mais tempo no Maranhão.
Com alguns toques bem improvisados, transformamos o apartamento em um lugar mais charmoso e mais pessoal. Toda vez que eu ia a São Paulo, para ver minha filha, voltava com algumas coisas na mala, mas só o que realmente me faltava.
Começamos a nos sentir mais à vontade não só em casa, mas também na cidade. Aos poucos fomos descobrindo nosso bairro e fazendo novos amigos. Demorou um pouco até percebermos que havíamos mudado de cidade!
Feira-livre
Inesperadamente, a cozinha se tornou o meu lugar preferido, nela eu passava grande parte do meu tempo. Comprei algumas louças e panelas, e com elas improvisei algumas refeições das quais não me esqueço. Procurando pelos alimentos frescos, conheci os ingredientes locais. Eu já conhecia algumas frutas do Nordeste de outras viagens, mas confesso que eu não fazia ideia da existência de muitos alimentos típicos do Maranhão.
Busquei pelas feiras livres, e fiz amizades com alguns pequenos produtores de queijo coalho, farinhas, temperos e polpas de frutas. Ter as polpas de fruta prontinhas para o uso era perfeito… Caju, graviola, cajá, cupuaçu, bacuri, murici e o açaí (que lá é um pouco diferente e se chama juçara) estavam sempre na minha geladeira. E descobri o abacaxi mais doce da face da Terra: o abacaxi de Turiaçu!
Aprendi a usar a farinha de mandioca em receitas corriqueiras, e logo veio o hábito de comer junto com arroz e feijão. Nunca havia visto feijão-verde fresquinho, debulhado na hora. Agora levava sempre um pouco para casa para novas receitas.
O blog
Antes da mudança eu era uma cozinheira de final de semana, só cozinhava quando escolhia uma receita mais elaborada e planejava uma refeição para a família. Outros tempos, agora, em um piscar de olhos, nossas refeições não precisavam mais ser rápidas e práticas, nem conciliadas com horários de trabalho e escola. Eu tinha tempo. Aquele necessário para cozinhar, testando receitas, pesquisando ingredientes, errando e repetindo até aprender.
Consequentemente, começamos a ter muita comida para apenas duas pessoas. O que fez a nossa casa virar ponto de encontro, para os colegas da empresa e nossos novos amigos degustarem alguma das minhas novidades culinárias. Tornamo-nos especialistas em improvisação em espaços pequenos, era um tal de juntar a mesinha da varanda com a da sala de jantar, e muitas vezes ainda acomodar alguém nos bancos altos do passa-prato.
Nesses encontros surgiu a ideia de fazer um blog com as minhas receitas, onde além de compartilhá-las, eu iria escrever sobre a minha nova vida no Maranhão. Este é o primeiro post deste projeto!
É maravilhoso, tudo isso, especialmente as poupas de frutas que são variadas, cada uma com sabor próprio e deliciosos!! O buriti, Bacuri, abricó e outros!!
Amo muito tudo isso,moro no RJ fui agora lá e sempre vou a feira do João Paulo e quero trazer de um tudo kkkk
Muito bom! Essa feira das fotos fica localizada onde? eu encontro alimentos organicos nela?
Essa feira das fotos fica em frente ao supermercado Bompreço na Avenida Colares Moreira. Lá nunca encontrei nenhum produtor de orgânicos… Mas por outro lado, encontrei produtos bem frescos!
Adorei!!! Como Maranhense digo que vocês estão mostrando direitinho a nossa cultura. Ps.O que você chama de azedinha conhecemos como “vinagreira”. Adoro!!!
E o Açaí, para nós maranhenses… é a boa e velha “juçara”.
Sugiro que vá conhecer a Festa da Juçara que ocorre todos os anos no povoado Maracanã.