Geleia de pitanga com baunilha

Eu estava apavorada antes da primeira sessão de quimioterapia. Como me explicaram, era impossível prever como meu organismo iria reagir. Cada pessoa e seu organismo tem um histórico, e cada mente tem os seus fantasmas. 

Acordamos bem cedo, tomamos o café da manhã como sempre. Juntei o novo remédio de uso contínuo, pasta com exames, a caderneta de controle da quimioterapia e um livro para ler. Me lembrei do ritual antes de sair para a escola em tempos distantes.

Chegamos no hospital antes das 7:30, horário em que estava marcada a quimioterapia. Corredores ainda vazios, só havia o som dos nossos passos ecoando em direção ao andar da oncologia. O prédio ainda estava em silêncio. E se a princípio torci o nariz pelo horário disponível, no momento em que me atenderam eu descobri que sendo a primeira paciente do dia tudo seria mais rápido, nada de longas esperas. Isso diminuiu a minha ansiedade.

Entender o que é o ”protocolo” do tratamento foi complexo e repleto de detalhes que eu não não consegui absorver de imediato. A ordem em que tudo deve ser feito (e o que não pode ser feito), tudo o que poderia sentir e até possíveis reações adversas imediatas. Assim que a infusão começou me escondi dentro no livro da Rita Lee e procurei me concentrar no que estava lendo. Mesmo que eu lesse e relesse o mesmo parágrafo inúmeras vezes sem me dar conta do que estava escrito.

Senti muito frio e a princípio acreditei que fosse o ar condicionado que estivesse muito forte. Me cobri com o lençol que estava no braço da poltrona. Notei que a minha fala começou a ficar lenta; eu tentava responder, mas as palavras saíam devagar, eu não as controlava mais. E por fim chegou o sono! Não lembro quanto tempo dormi. 

Depois de uma longa manhã voltei para casa sonolenta e com fome. Comi um pouco e adormeci novamente. Acordei me sentindo melhor e isso me deixou animada. 

Pitanga

A geleia de pitanga

Adoro quando chega a época de pitangas e recebo aqueles pacotes perfumados na cesta de orgânicos. Elas são tão delicadas, que muitas já chegam desmanchando. É o tempo certo de lavar com cuidado sobre uma peneira e colocar na panela para fazer uma boa geleia. Antes de preparar, reservo algumas que estão bem firmes e bonitas para usar em sucos e aquela caipirinha de domingo. O colorido é simplesmente incrível!

Nos últimos dias as pitangas que recebi me fizeram mais feliz e agradecida do que de costume (mesmo com algumas larvinhas). Com o início da quimioterapia e tanta tensão e ansiedade, chegar em casa e preparar a geleia de pitanga com a última fava de baunilha (que guardei para algo bem especial) foi tudo que precisei para me sentir melhor.

Geleia de pitanga com baunilha

Sobre o preparo da geleia de pitanga: se não tiver uma fava de baunilha, coloque um pouco de extrato de baunilha bem no final do cozimento. E para saber o ponto ideal da geleia, existe um truquezinho bem simples. Enquanto prepara tudo, coloque um pires na geladeira (ou no freezer). Quando achar que está no ponto, pingue uma gota da geleia no pires e vire-o para ver se escorre. Se a gotinha escorrer bem devagar, endurecendo, está na hora de retirar a panela do fogo.

Geleia de pitanga com baunilha

Geleia de pitanga com baunilha

Ingredientes

  • 4 xícaras de pitangas maduras
  • 1 ½ xícaras de açúcar demerara
  • 1 fava de baunilha (opcional)

Modo de fazer

  • Cozinhe as pitangas junto com o açúcar até amolecer e começar a soltar as sementes. Aperte bem com as costas de uma colher de pau.
  • Desligue o fogo e transfira para uma peneira (ou escorredor de macarrão) apertando bem para extrair toda polpa da fruta.
  • Volte para a panela, junte a fava de baunilha aberta e raspada com a ponta de uma faca. Cozinhe em fogo médio por uns 30 minutos, mexendo ocasionalmente, até engrossar.
  • Transfira para vidros esterilizados ainda quente e feche. Depois de aberto, guarde na geladeira.
Geleia de pitanga com baunilha

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Comentários

  1. Com certeza farei a geleia, acabei de colhe-las e ando ansiosa por fazer e provar… e o suco de pitanga? Manda a receita. Desejo que fique bem 😘

  2. Olá! Depois de ter a pitangueira plantada há uns anos no quintal, esse mês estamos sendo abençoados com a fartura da fruta! Lembrando que a pitanga é nativa da Mata Atlântica. Enfim, procurando receita de geléia, achei essa bem interessante e vou fazer já ;). Obrigada por postar!

    1. Oi Sabrina! O que anda difícil (ou melhor, caro!) é a baunilha…

  3. Ronaldo Sergio Fortes says:

    Perfeito! Colhi hj pitangas de minha horta e me bateu a ideia de uma geléia. Cá estou com sua re eita nas mãos e pronto pra executar. Me falta bainilha em fava. Essa nunca vi na vida. Mas porei essa essência q tenho aq.

    1. Olá Ronaldo! Que delicia ter pitangas da propria horta para colher…senti até um pouco de inveja! A baunilha em fava ao longo dos anos se tornou um ingrediente em extinção. Quando descobri esta receita talvez tenha usado as minhas ultimas. Confesso que tenho saudades. Hoje utilizo o extrato de baunilha.

  4. Rosalina saboleski says:

    Amei a receita

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